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PARLAPATÕES E SUA MÚSICA Os grupos de teatro no Brasil quase não contratam músicos, com raríssimas exceções, e a reportagem da rádio web da CCMQ foi perguntar ao pessoal do grupo Parlapatões, Patifes & Paspalhões - que fez um espetáculo em Porto Alegre recentemente - como eles lidam com a música em seus espetáculos. Já que o grupo faz teatro de rua, bem circense, lembramos que nos idos dos anos 20,30, Cornélio Pires - um dos pioneiros da autêntica música sertaneja no Brasil - se apresentava em circos no interior do estado de São Paulo divulgando sua música. O Hugo respondeu: "A gente explora alguns músicos. De quatro anos pra cá tem aí um parlapatão de plantão que é o maestro Abel Rocha, que eu conhecia de trabalhos fora dos Parlapatões, trabalhando com ópera. Ele é um especialista em ópera, que se aproximou, é um músico erudito de grande conhecimento. De repente ele topou a tarefa de trabalhar com a gente que não tem muito envolvimento com a questão musical, mas tem muita necessidade. O espetáculo de rua, o espetáculo festivo como a gente faz, tem essa necessidade. Então a gente vem nesse processo de aulas de canto, de lidar com alguns instrumentos, de se preparar pra poder realizar, como por exemplo, uma batucada, um maracatu, que é um ritmo difícil de você aprender e tocar, especialmente para quem não tem habilidade musical. Mais sobre nosso lado musical: a gente foi convidado pela FUNARTE para fazer um CD - Circo - com uma seleção de músicas que tivesse a haver com o circo. Para isso nós acabamos fazendo uma pesquisa muito grande que acabou mostrando todo o ecletismo que o circo representa. Às vezes a gente tem uma visão clássica do circo, com acrobacias e tal, mas a parte musical tem uma raiz eclética - que é popular - que atende a todos os gostos e tendências. Hoje em dia você vai naqueles circos mais tradicionais, com nome de família, e de repente lá está tocando Guns and Roses. Ou seja, é o que o jovem ali da família do circo ouve e coloca como trilha do seu número. A gente achava que iria para o lado da música de raiz ou do samba. Mas como você citou Cornélio Pires, tem também o Eduardo das Neves, um dos pais do samba-canção, era compositor de lundus e foi um dos primeiros a gravar discos no Brasil. Nós chegamos na nossa pesquisa àquilo que no circo é a manifestação musical mais forte: a charanga. São apenas instrumentos de sopro e percussão, aquelas bandinhas que nos circos de hoje quase não vemos mais. Tanto que em nossos espetáculos ao vivo fazemos questão que os músicos se vistam com as fardas geralmente vermelhas da charanga e paguem o mico por estarem vestidos assim, porque é a nossa charanga, mesmo que seja a charanga de um músico só." "Aquele roupinha Sargeant Peppers, dos Beatles", completou a Mari Mesari. Saulo Wanderley
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